MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
luiz marenco - quando a alma volta pra terra
Sentei os recaus no lombo de um mouro
Destapereando silêncios pelas taperas
Com cantigas de espera sem nada encontrar
Para algum dia voltar, ruminando quimeras
Com os anos passando, o sol foi bronzeando
Minha alma morena e a pampa torena
Dentro de mim, foi lambendo o capim com línguas de agosto
Moldando em meu rosto os rastros que apontam os rumos pra o fim
Sofreno o passado que vem estafado
Com sede e com fome
Pois a terra consome quem anda sem rumo
Sem erva e sem fumo
Pra algum dia, depois dessa vida proscrita
Voltar a terra bendita com todo vigor que a sina embuçala
Na estrada do tempo com a esperança na mala pra tapear amarguras
Jujando ternuras pra quem já perdeu o pago e o nome
luiz marenco - pra os dias que vêm
O tempo insiste, me cobra seu preço
Das coisas que ontem a vida me deu
Não sabe que a vida se mostra a seu modo
Do jeito mais simples, que a alma aprendeu
Me bastam silêncios, me apego a distâncias
Cavalo de tiro e estrelas de esporas
Um claro horizonte com rumo de estrada
E vistas que alargam meus olhos de agora
Meu tempo é de hoje, pra sempre me leva
No tranco do baio de cada manhã
Pois domo meus potros com mãos de paciência
E amanso a querência, prevendo o amanhã
Lembrança de um tempo que adoça a alma
E amarga a saudade, teimando em marcar
O hoje tem jeito de adeus e passado
Que cruza depressa, sem desencilhar
Componho meus dias, por esta existência
Antiga e tão minha, que ao tempo remoçam
Meus olhos de estrada campeiam o amanhã
Tentando ser ontem, embora não possam
Meu pingo é de hoje, pra sempre me leva
Na calma dos bastos, no tranco que tem
Encilho meus baios, com jeito e tenência
E cuido a querência, pra os dias que vêm
luiz marenco - o forasteiro
Na sombra de um bolicho à beira estrada, daqueles que do mundo se perdeu
Encontra-se uma gente reunida, a espera de um chamado de seu Deus
Perfumes de bom fumo amarelido, paredes com suas almas penduradas
Paciências de um lugar envelhecido, e uma coragem de quem não tem nada
Apeia um forasteiro: o que é da vida responde o bolicheiro: está cansada
A gente de bombacha anda esquecida desiludida nos beirões da estrada
Buscamos nossa terra prometida um mundo pras crianças e pros velhos
O sul que nós sonhamos onde a vida devolva o que branqueou nossos cabelos
Mas cada ano a seca de janeiro, precede um novo inverno de asperezas
Parece que o destino do campeiro não pode pedir mais que pão na mesa
E aos poucos, o que diz o bolicheiro se multiplica em vozes pelo ar
E volta a se calar o forasteiro, junta o violão no peito pra cantar
Já vi quase de tudo em minha vida, a séculos que ando pela estrada
Vi a morte sobre a terra prometida, e a vida sobre a terra abandonada
Vi um homem pondo fogo na colheita, enquanto outro semeava num deserto
Já vi perto o que ontem era um sonho, e longe vi o que sempre fora certo
Um povo sonha Deus a sua imagem, e Deus devolve a terra a cada povo
Moldada no trabalho e na coragem que o povo usou pra levantar o sonho
Aqui é nosso inferno e paraíso, a vida é uma planta por cuidar
A que morrer por ela se preciso, o sul somente o sul pode salvar
Assim falou pro povo o forasteiro, depois montou e envolto num clarão
Sumiu emoldurado pela tarde, bem como o sol dissipa a serração
Uns dizem que mais altos que os cerros ele segue abençoando este rincão
Mas muitos acreditam que essa gente ouviu a voz do próprio coração
O certo é que um a um se foi às casas, por que havia uma planta por cuidar
Arar a terra a cada madrugada, para a semente que há de germinar
O homem faz seu Deus que faz o sonho, um sonho azul maior que este lugar
Na luz que vem dos olhos dessa gente, o sul um dia se iluminará
luiz marenco - botando um pealo
Um pampa-brazino mocho
Ganhou o mundo da porteira
Levantou terra por touro
E disparo na manguera.
Eu ajeitava minha armada
Quatro rodeilhas e um destino
Um doze braças, de oito
De couro de um boi salino.
-zunio o vento no céu...
-bateram bombos na terra...
Era um encontro ao acaso
Era um combate de guerra.
Cruzou o pampa-brazino
Meu laço segui seu rastro
Tava com fome de um pealo
Pois foi lambendo o pasto.
O pampa juntou as mãos
Deu cara-volta e plantou-se
Estendeu umas dez braças
E depois acomodou-se.
Parece que foi rezar
Pra o seu santa protetor...
-mas o meu santo é mais forte
E ainda é pealador!
Pois qunado boto um pealo
Meu tirador nem faz conta
Quadro o corpo e só escuto
O estouro na outra ponta.
Deixo assim, que se estenda
Despois que espiche meu laço
Que eu ainda me governo
Seja com jeito, ou no braço.
Logo se vem o capataz
Com a peonada apertando
Firma a cabeça e coleia
Por que a marca vem queimando.
E a faca no serviço
Por bem afiada se guia
E deixa um risco de sangue
Coloreando na "viria".
Depois foi um, e mais outro
Serviço de tarde inteira
Era um buraco no chão
Na saída da porteira.
Pra resumir essa história
Vou lhes contar como foi:
-quando caia era touro
Depois do pealo era boi...
luiz marenco - passo da noite
Quem já cruzou na noite distâncias largas
E viu a querência inteira sumir no breu
Precisa a graxa do trevo das invernadas
Cogote duro do pingo para a jornada
E o tino de achar no escuro o que se perdeu
Quem já encilhou em noite de tempo feio
E não achou suas estrelas formando cruz
De nada adianta guiar a perna do freio
No mundo das sombras grandes, cavalo e arreio
São cegos da madrugada tateando a luz
Quem ganha a boca da noite jamais esquece
De haver sido um dos assombros que a noite tem
Talvez seja um destes vultos que assustam ranchos
Quem sabe um morcego a mais em asas de poncho
Alados mas prisioneiros que o sol não vêem
Hay hora na noite grande que o vento pára
E vira o mundo perdido na escuridão
É o mesmo tempo que a voz da macega cala
O pingo senta de susto arrastando a mala
E a gente chega a se tocar com a solidão
Cruzar o passo da noite, rever querência
Tranquear com a vida nos bastos, surgir do breu
É reencontrar estrelas num céu de ausências
Juntar pedaços do mundo das benquerenças
É o tino que achar no escuro o que se perdeu!
luiz marenco - estância da fronteira
Guardiãs de pátria, memorial dos ancestrais
Onde trevais nascem junto ao pasto verde
Sangas correndo, açudes e mananciais
Pra o ano inteiro o gadario matar a sede
Grotas canhadas e o poncho do macegal
Para o rebanho se abrigar nas invernias
Varzedo grande pra o retoço da potrada
Mostrar o viço e o valor das sesmarias
Sombras fechadas de imponentes paraísos
Onde resojam pingos de lombo lavado
Que após a lida até parecem esculturas
Molhando a frente do galpão, templo sagrado
Pras madrugadas, mate gordo bem cevado
Canto de galo que acordou pedindo vasa
Cheiro de flores, açucena, maçanilha
E um costilhar de novilha pingando graxa nas brasas
Pra os queixos crus, os bocais dos domadores
Freios de mola pra escaramuçar bem domados
E pra os turunos ressabiados de porteira
O doze braças, mangueirão dos descampados
Pra os chuvisqueiros galopeados de minuano
Um campomar castelhano e o aba larga desabado
Pra o sol a pino dos mormaços de janeiro
Um palita avestruzeiro e o bilontra bem tapeado
Pras nazarenas, garrão forte e égua aporreada
Pras paleteadas o cepilhado de coxilha
Pra o progresso do Rio Grande estas estâncias
Mescla palácio com mangrulho farroupilha
luiz marenco - fandango na fronteira
Vou te contar bem direitinho
De um fandango na fronteira
Vanerão se dança xote
Também se dança rancheira
Os gaúchos são valentes
E as chinocas são faceiras
E os índios tinem a espora
No balanço da vaneira.
Este fandango que eu falo
É na fronteira do estado
Primeira estância da querência
No rio grande é o mais falado
E lá dos pagos missioneiros
É a catedral xucra do pago.
Prá dançar lá na fronteira
O salão sempre é folgado
São gaúchos caprichosos
Sempre estão bem arrumados
Guaiaca, bombacha larga
Lenço branco ou colorado.
Vou te contar bem direitinho
Das chinocas missioneiras
Dos olhares feiticeiros
Carinhosa e candongueiras
Umas que são argentinas
E outras que são brasileiras.
Quando vem clareando o dia
Que já termina o fandango
Se ouve o ronco dos trinta
E o forte estalos de mango
Mas não é briga e não é nada
É os gaúchos pacholeando.
E foi assim que eu te contei
Que é o fandango na fronteira
Vanerão se dança xote
Também se dança rancheira
Os gaúchos são valentes
E as chinocas são faceira
E os índios tinem a espora
No balanço da vaneira.
luiz marenco - bailes do boqueirão
"Nos bailes do Boqueirão
Não tem de mamãe não gosta
Depois que a chirua encosta
Só o que aparta é com facão"Nos bailes do Boqueirão
Sem espora ninguém dança
E toda e qualquer lambança
Se decide no facão
Nos bailes do Boqueirão
Candeeiro de querosene
Gateada, ruiva e morena
A gente amansa a tirão
Nos bailes do Boqueirão
Com cordeona de oito baixo
A fêmea é que agarra o macho
E é proibido carão
Nos bailes do Boqueirão
Não tem de mamãe não gosta
Depois que a chirua encosta
Só o que aparta é com facão
Nos bailes do Boqueirão
Nos bailes do Boqueirão
Nunca se muda de rima
O mais fraco vai por cima
E o mais forte anda no chão
Nos bailes do Boqueirão
Ninguém é dono de china
E o causo sempre termina
Num sururu de facão
Nos bailes do Boqueirão
Com cordeona de oito baixo
A fêmea é que agarra o macho
E é proibido carão
Nos bailes do Boqueirão
Não tem de mamãe não gosta
Depois que a chirua encosta
Só o que aparta é com facão
Nos bailes do Boqueirão
Nos bailes do Boqueirão
Quando o candeeiro termina
Apenas o olhar da china
Serve de iluminação
Nos bailes do Boqueirão
Sempre que dá um tempo feio
O taio de palmo e meio
É menor que um beliscão
Nos bailes do Boqueirão
Com cordeona de oito baixo
A fêmea é que agarra o macho
E é proibido carão
Nos bailes do Boqueirão
Não tem de mamãe não gosta
Depois que a chirua encosta
Só o que aparta é com facão
Nos bailes do Boqueirão
Nos bailes do Boqueirão
luiz marenco - chamarrita de galpão
A trote e a galope percorro qualquer lonjura
Com a minha vida nos tentos e a justiça na cintura
É coisa linda de ver, um índio quando se agarra
E destorce um doze braças dando pealos de cucharra
E a dirigir a festança no compasso da chamarra
O dia que eu amanheço com os pés apapagaiado
Com a bombacha arremangada e o tirador do outro lado
Milico na minha frente não passa sem ser notado
Quem será aquele louco que vai toda disparada
Respondi ao pé da letra não é louco, não é nada
Aquele lá é um gaúcho que vai ver sua namorada
Sou domador de mão cheia ginetaço flor e flor
Tranço laço, ainda por cima tenho sorte para o amor
Não sou manco na guitarra, guitarreiro e cantador
luiz marenco - de estância e saudade
Senti um nó na garganta
Quando saí da querência
Tantas memórias recuerdo
Que a alma velha acalanta
E passam despercebidos
Só se fazendo presentes
Quando a saudade maleva
No peito sente a distância
Acácia velha da estância
Do adeus da minha partida
Esperançavam um retorno
Com flores amareladas
No galpão dos meus arreios
Pelas guascas engrachadas
Domavam potra da alçada
No lombo dos meus anseios
Refrão
Quando mirei as esporas
Estrelas largas de sonhos
Pelas formas das rosetas
Senti que a vida aragana
Também rodava despersas
Como os destinos imersos
Nas tristezas das partidas
E alegrias dos regressos
Cada pedra do terreiro
Relembrava qualquer coisa
De algum passado remoto
Num recurdo caborteiro
E alma velha da estância
Gritava em todos os lados
Em contra-pontos calados
Aos berros das minhas ancias
Da tropilha do destino
Embuçalei a saudade
Que já vinha laço a fora
Na mangueira da minha alma
Não tive sorte na doma
E hoje é potro caborteiro
Que corcoveia no peito
Quando o recurdo retoma
Refrão 2x
luiz marenco - filosofia de andejo
Frente ao caminho me calo, e o pensamento sofreno
O mundo é muito pequeno, prás patas do meu cavalo
Nesta jornada terrena, aprende muito quem anda
Sempre que a alma se agranda a estrada fica pequena
A carpeta da distância é a escola do jogador
Se invide mais de um amor, mas só se perde uma infância
O jogo da redoblona, é a lei maior do combate
Nunca se agradece o mate, se tem água na cambona
O amor ao chão não tem preço, se aprende deste piazinho
O brabo é achar o caminho, pra retornar ao começo
Onde há vaca existe touro, este é o primeiro decreto
E até o mais analfabeto sabe brincar de namoro
Por escondido que seja, o rancho que tem bailanta
Guitarra, gaita e percanta, meu flete sempre fareja
Eu penso, penso e repenso, ninguém nasceu pra ser mau
Quem usa freio de pau, é por gostar do silêncio
Deve haver algum feitiço, depois que o tempo nos laça
O mundo não tinha graça se a vida fosse só isso
Frente ao caminho me calo, e o pensamento sofreno
O mundo é muito pequeno, prás patas do meu cavalo
luiz marenco - na baixada do manduca
Lá na baixada do manduca
Hay reboliço de china
Três guitarras orientales
E uma gaita corrientina
E o biriva rio grandense
Com toadas lisboinas.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
O chinaredo lá da estância
Se "aprepara" já faz dias
Segundo siá basilícia
Vai trazer várias famílias
Prá escutar o dom ortaça
E o gaiteiro malaquias
E o cantor da bossoroca
Que canta com galhardia.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
Jaguarão chico e vichadeiro
Se alvorotou a peonada
Do caseiro ao capataz
Todos de bota ensebada
E o careca zaragosa
Nem liga prás gineteada.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
A prendinha ana luiza
Filha do nosso patrão
Já encargo água de cheiro
Vinda de outros rincão
E um delantal colorado
Partido de sua opinião.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
E dê - lhe mate pelos cantos
No compasso da chamarra
Entra juca e sai manduca
E dê - lhe cordeona e guitarra.
luiz marenco - milonga das tres bandeiras
Vieja milonga pampeana
hija de llanos y vientos,
chiruza de cuatro alientos
de la tierra americana;
Vieja milonga paisana
de los montes y praderas,
tus mensajes galponeras
trenzaran en la oración
al pié del mismo fogón
los gauchos de tres banderas.
Brasileño y oriental,
Rio-grandense y argentino,
piedras del mismo mamino,
aguas del mismo caudal,
hicieran, de tu señal,
himnos de patria y clarin,
hasta el mas hondo confin,
de Osório-Artigas-Belgramo,
Madariaga y San Martín!
A tu conjuro peliaran,
vieja milonga machaza
los centauros de mi raza
que al más allá se marcharan
y las hembras te besaran
con cariño y con amor
cuando en la guitarra flor,
enriedada en el cordeje,
fuiste un llamado salvaje
al corazón del cantor!
Milonga - poncho y facón,
calandria pampa y lucero,
grito machazo del tero,
calor de hogar y fogón,
milonga del redomón,
llevando pátria en las ancas,
milonga de las potrancas
milonga de las congojas
milonga divizas rojas,
milonga divizas blancas.
Blanco y azules pañuelos,
celeste verde amarillos,
milonga de los caudillos
que hilvanaran nuestros suelos,
milonga de los abuelos
de las cepas cimarronas,
milonga de las lloronas
repiquetiando de lejos,
milonga de los reflejos
en las trenzas de las peonas.
Martín Fierro - el viejo Pancho,
Blau Nunes y Santo Veja,
tu sonido gaucho llega
parido nel mismo rancho
y a lo largo y a lo ancho
dibuja el suelo patrício
cuando el payador de ofício
repunta en vuelo bizarro,
lanceros de Canabarro,
rastreadores de Aparício.
Con tu sonido encadenas
nel mismo pampa dialecto,
Antonio de Souza Neto,
poncho - lanza y nazarenas,
milong sangre en las venas
de la história que se aleja,
leyenda de pátria vieja
que hizo del cielo diviza
con Justo José de Urquiza,
Juan Antonio y Lavalleja.
Milonga de tres colores
punteada en cuerdas de acero,
cuando el último jilguero
ensaya sus esteretores,
nosotros los payadores,
de la tradoción campera,
saldremos a campo fuera,
por los ranchos y fogones,
tartamudeando oraciones
pa' que el gaucho no se muera
Pero el jamás murirá,
gaucho no puede morir,
es ajes y el porvenir,
lo que fué y lo vendrá,
la lanza y el chiripá
padran quedar nel repecho,
Pero - Liberdade e Derecho,
Dignidad y Gaucheria,
el Patriotismo y la Hombria
los guardamos en el pecho.
Milonga de tres bandeiras,
templada por manos rudas,
mensaje de Dios, sin dudas
sin cadenas ni fronteras,
mañana por las praderas
el viento pampa resonga
con su guitarra de estrellas
haciendo pátria con ella
pues donde hay pátria, hay milonga.
luiz marenco - batendo água
Meu poncho emponcha lonjuras batendo água
E as águas que eu trago nele eram pra mim
Asas de noite em meus ombros sobrando casa
Longe "das casa" ombreada a barro e capim
Faz tempo que eu não emalo meu poncho inteiro
Nem abro as asas da noite pra um sol de abril
Faz muitos dias que eu venho bancando o tino
Das quatro patas do zaino pechando o frio
Troca um compasso de orelhas a cada pisada
No mesmo tranco da várzea que se encharcou
Topa nas abas sombreras, que em outros ventos
Guentaram as chuvas de agosto que Deus mandou
Meu zaino garrou da noite o céu escuro
E tudo o que a noite escuta é seu clarim
De patas batendo n'água depois da várzea
Freio e rosetas de esporas no mesmo trim
Falta distância de pago e sobra cavalo
Na mesma ronda de campo que o céu deságua
Quem tem um rumo de rancho pras quatro patas
Bota seu mundo na estrada batendo água
Porque se a estrada me cobra, pago seu preço
E desabrigo o caminho pra o meu sustento
Mesmo que o mundo desabe num tempo feio
Sei o que as asas do poncho trazem por dentro
luiz marenco - romance do pala velho
Uma vez fui na cidade
Na maldita perdição
Lá perdi meu pala velho
Que me doeu no coração.
Quando voltei da cidade
Vinha com dor na cabeça
Cheguei fazendo promessa
Deus permita que apareça.
Encontrei xirú do posto
E não deixei de maliciar
Que ele achou meu pala velho
E não queria me entregar.
Fui dar parte ao comissário
Ficou prá segunda - feira
Me levaram na conversa
Se foi a semana inteira.
Veja as coisas como são
Como se forma a lambança
Que pelo mal dos pecados
Era o forro das crianças.
Com este pala rasgado
Passava campos e rios
Com este meu palinha velho
Não temo chuva e nem frio.
Foi forro para as carpetas
E em carreiras perigosas
"inté" serviu de agasalho
Prá muita prenda mimosa.
"inté" nas noites gaudérias
Meu pala soltito ao vento
Ia abanando pachola
Prás luzes do firmamento.
Informem nas vizinhanças
Este triste sucedido
Quem tiver meu pala velho
Que prendam este bandido.
Neste mundo todos morrem
Da morte ninguém atalha
Me entreguem meu pala velho
Prá mim levar de mortalha.
Cds luiz marenco á Venda