MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
juliano holanda - a espera
Havia um século na ponta do lápis
Não na que escreve?
Na que segura borrachas!
Vivo como quem vive a sua espera
Sem necessariamente viver como
quem vive a sua espera só
Ã?s vezes, muito raramente, eu entro num supermercado
Tem dias que chove um bocado
Tem dias que eu passo calado, assim?
Vivo como quem vive a sua espera
Sem necessariamente viver como
quem vive a sua espera só
Tem dias em que não me acho
Uns dias eu vou ao teatro
Ou faço uma espécie de teatro dentro de mim
Tem dias em que eu nem me vejo
Acordo e saio tão apressado
Quem nem mesmo a minha sombra sabe me seguir
E até minha alma fica na cama, deitada
Sem perceber que eu saí
juliano holanda - altas madrugadas
Quando a noite mergulha tão somente
No silêncio profundo das estrelas
Eu escrevo outro verso à luz de velas
Sem cruzeiro qualquer que me oriente
Não há brisa sequer que se apoquente
A bater as janelas mal-trancadas
No ranger dolorido das escadas
Não há mau pensamento que me fuja
Ouço ao longe o piar de uma coruja
E o mugido das altas madrugadas?
Passa o vento em estranhos rodopios
Revirando o que estava tão tranqüilo
Pois ninguém é capaz de persegui-lo
Embaralha e retorce tantos fios
Quebra as folhas de caules mais esguios
Atravessa até frestas mais fechadas
Descascando a pintura das fachadas
Soberano, ninguém lhe sobrepuja
Ouço ao longe o piar de uma coruja
E o mugido das altas madrugadas?
Lá distante se escuta a tempestade
Avisando que está já de partida
E esse cheiro de vela derretida
Vai tomando as esquinas da cidade
E transforma a tormenta em claridade
No mormaço das ruas alagadas
Só me resta o soluço das calçadas
Vou lavar minha alma na água suja
Ouço ao longe o piar de uma coruja
E o mugido das altas madrugadas?
juliano holanda - antes e depois
Agora chove, antes não chovia
Mas, também não fazia sol
Agora durmo, antes não dormia
Todas as cores me distraem
E as gotas de chuva quando caem também?
Agora vejo, antes não veria
Cada hora é cada hora
E cada dia é cada dia
Agora digo, antes não diria
O tempo passa quando a sombra cai
E não passa se a sombra não cai também?
Agora é isso
Antes não seria nada disso
Agora quero, antes não queria
Mas, a minha vida nunca segue a linha
Agora sinto, antes eu sabia
Ou pensava que sabia até demais
Agora sei que ainda quero mais, além?
Agora é isso
Antes não seria nada disso
Antes que eu perca tempo
Antes que a verba acabe
Antes venha a derradeira tempestade solar
Antes que a inspiração me deixe
Antes do verdadeiro eclipse
Antes que a onda quebre
Antes que o tempo vire
Antes venha a derradeira tempestade solar
Antes que a embarcação se perca
Antes que o vento leve a cerca
Antes que seja tarde
Antes que mais não seja
Antes venha a derradeira tempestade solar
juliano holanda - dimensão
A rua é tão estreita que eu me sinto largo
O céu é tão alto que eu me sinto pequeno
A natureza é tão rica que eu me sinto pobre
O sol é tão claro que eu me sinto noite
O mar, tão profundo que eu me sinto raso
O amor é tão doce que eu me sinto azedo
E a paz é tão calma que eu me sinto alma
juliano holanda - domingo no sítio
Depois que a manhã se desdobra
Pra chover
Vem tanta nuvem da serra pra cá
Onde o vento se joga?
Então, já depois de amanhã
Talvez
Seja tarde demais pra chegar
Mas se der
Não demora?
Eu
No domingo que vem vou lá
Nem que seja bem tarde
Mesmo sendo madrugada até
Vale á pena se deitar
No leito do rio e deixar se levar?
Depois
Esquecer do caminho de casa
Pra jogar toda tarde fora
Sem ter hora pra retornar
Sem ter hoje nem ter amanhã
Pra chorar, pra sorrir
Pra dormir, pra sonhar
Pra chegar, pra sair
Pra se perder no silêncio do olhar
Lá
Onde o tempo se escora
Ã? que a tarde namora
Ã? que o vento se enrosca pra depois soltar
Lá no alto mais alto que há
Onde quase não dá pra chegar
Onde a folha se larga
E desliza na brisa
De leve
E vai caindo sem vertigem
Como luva na paisagem
Lentamente
Num redemoinho feito um carrossel
Do chão pro céu
Do céu pro chão
Do chão pro céu de madrugada
Numa calma disparada
Onde tudo quer passar
Tranqüilo sem correr sequer perigo qualquer
A qualquer hora?
Lá, vou dizer: eu encontrei a paz?
E por isso, aonde quer que vá
Deixo a brisa me guiar, se for
A mesma brisa
Aquela mesma
Que soprava
Serra dentro
Vendo a paisagem deslizar
Sem pressa
Sem pressa
Na sombra
Saudade sincera
Enquanto a vida se derrama no ar?
Num domingo qualquer dessas estelares semanas
A mansidão é tanta
Que assimila a planta e se recria em dia e noite só
Em noite e dia que amanheceria
sempre e novamente em cada pomar
E depois de cada manhã sopraria a brisa de lá
Pra trazer outra sombra, outra luz, outra serra pra cá?
juliano holanda - farol
Desde que você partiu
Espero
Do jeito mais sincero
Que me é possível
Do jeito mais visível
Que se pode estar
Em frente ao mar
Como um farol
E a minha sombra vai fugindo ao sol
Como ponteiros de um relógio
Você é a cama em que deito
Você é a água em que me vejo
O ar que preciso
A casa onde moro
E desde que você partiu
Eu choro
juliano holanda - feriado
Em meu sonho
Um dia
Feriado nacional
Uma rima longa
Uma ideia
Meio-dia
Em meu sonho
Um sol
Um tempo longe
Um anzol
Ando só de bicicleta
Em meu sonho
Vento
Sol no rosto
Só me resta aproveitar
juliano holanda - horizontal
Quando o pé acerta o rumo
A estrada se orienta
Cada passo que se inventa
Pisa o chão e toma prumo
Cada fruta tem seu sumo
Cada hora, o seu momento
Cada folha tem seu vento
Quando a areia se levanta
A imensidão é tanta
Que arrebenta o pensamento?
Longe, nuvens tão imensas
Deslizando, carregadas
Como ondas disparadas
São tão leves e tão densas
São embarcações intensas
São cargueiros libertados
São navios naufragados
São veleiros, são escunas
Navegando pelas dunas
Desses olhos marejados?
Já o mar tem duas rotas
Quando é dia e tudo brilha
A correnteza é uma trilha
No traçado das ilhotas
Voam mais que gaivotas
No desejo, que é tão grande
Não há cria que desande
Tudo é vasto, tudo é certo
Nesse carnaval deserto
Onde a alma se expande?
Mas, se é noite, o mar serena
E adormece pensativo
Sem anseio e sem motivo
Sua mansidão é plena
Mesmo a estrela tão pequena
Deve ter alguém que aponte
Mesmo que a manhã desponte
Ã? tão doce a maresia
Toda linha se desfia
Menos essa do horizonte
juliano holanda - Ímãs de geladeira
Eu já lhe dei
Imãs de geladeira
Eu já lhe fiz
Promessas pra vida inteira
O que você quer mais?
Já me despi
Cai como uma luva
Já me esqueci
Onde ficava a rua
Por onde andei
Já lhe beijei na chuva
Já lhe mostrei
O coelho que há na lua
Sem rastro e sem cometa
Sem tinta e sem caneta
Nem verso que me valha
Sem fio e sem navalha?
Eu já lhe dei
Imãs de geladeira
Eu já lhe fiz
Promessas pra vida inteira
O que você quer mais?
Já lhe comprei
Brincos de tartaruga
Já quis fugir
Já desisti da fuga
Já me peguei
Com a alma tão miúda
Lendo e relendo
Livros de auto-ajuda
Já me virei do avesso
Sem fim e sem começo
Dormi sem desengano
No leito do oceano
Em águas tão escuras
De lá, sonhei alturas
E despertei sozinho
Como quem cai do ninho?
juliano holanda - já era tarde
Quando eu cheguei ja era tarde eu sei
Pra te encontrar, pra te dizer o que você queria ouvir
Quando eu cheguei o sol não tava mais
Nem por aqui nem por nós dois
Eu me perdi sem tua voz
Nas tardes que eu sangrei
Quando eu cheguei ja era tarde eu sei
Pra te encontrar, pra te dizer o que você queria ouvir
Quando eu cheguei o sol não tava mais
Nem por aqui nem por nós dois
Eu me perdi sem tua voz
Nas tardes que eu sangrei
juliano holanda - morada
Eira de beira arruada
Soma de setas e sonos
Grama quebrando a calçada
Casa de tais abandonos?
Dente mascado no tempo
Quarto de arco crescente
Barco de velas e ventos
Olho de louça e de lente?
Céu de tijolo aparente
Nuvem de telha e cimento
Alto de asfalto distante
Tempo sem esquecimento?
Trecho de fácil morada
Rosto de traços tristonhos
Porta de qual madrugada
Rua de pedras e sonhos
Quadra de iguais hectares
Chã dos sem reis e sem donos
Templo de outros lugares
Casa dos meus abandonos?
juliano holanda - na primeira cadeira
Fui seguindo pra sempre na subida
Já andei vinte léguas contra o vento
Uma quadra sem porta e sem alento
Nessa estrada só tem lugar de ida
Cada curva parece conhecida
Cada passo descreve a própria lei
Nesse chão que a saudade derramei
Tanta dor, tanto pranto, tanto gozo
Me estiquei de um jeito preguiçoso
Na primeira cadeira que encontrei?
Fui ao fundo de todo pensamento
E segui sem intento e sem guarita
No deserto onde só o tempo habita
Eu ouvi murmurinhos pelo vento
Vi as nuvens girando em movimento
Aprendi a metade do que eu sei
Até mesmo a mentira que inventei
Me sorriu de um modo milagroso
Me estiquei de um jeito preguiçoso
Na primeira cadeira que encontrei?
Percorri com igual velocidade
Sobre ruas e vales e sarjetas
Revirei o que havia nas gavetas
Quis apenas a lei da gravidade
Aprendi no caminho da verdade
Uma coisa que nunca esquecerei
Me achei, me perdi, me deparei
Tão diverso e tão maravilhoso
Me estiquei de um jeito preguiçoso
Na primeira cadeira que encontrei?
Ao final mais cansado e mais sereno
Com os olhos repletos de visagens
Tantas chuvas e tantas estiagens
Da janela do trem, fiz um aceno
E pensei como o mundo é tão pequeno
Mas, também é maior do que sonhei
Fui dormir inocente e despertei
Tão criança, tão jovem, tão idoso
Me estiquei de um jeito preguiçoso
Na primeira cadeira que encontrei?
juliano holanda - nos sinais
Equilibrando-se
Nos ares
Malabares
Com vinte dedos em cada mão
Em cada passo
Um cadafalso
Vai ao chão
Retira cartas da manga
Com brilho de pura miçanga
Procura o que não perdeu
No alumínio dos cigarros
Ã? cinza de nuvem no céu
Refletindo fácil
Seu sorriso
Tímido e invertido
juliano holanda - olhos que afagam
Tenho desejos aflitos por olhos que afagam
esses olhares diretos que traçam perfis
eu já sei que não vou morar no céu
sustento o peso de olhares incertos
e às vezes me engasgo
pelos perversos, me rasgo
meu braço de rio
pra você se molhar em minhas mãos
me prender em suas mãos
me jogar onde quiser
e entender que há muito mais pra se dizer
dentro de nós
escuto sopros agudos que vêm feito ventos
sons recortando silêncios que bordam seu frio
e eu não sei o que há depois do céu
relembro o gosto dos lares que tive e o brejo das ruas
pelos desertos que vago, meu faro, meu cio
por você, pra te desprender de mim
e deixar você seguir pra chegar onde quiser
e entender que é tão difícil carregar o peso da voz
tenho desejos aflitos por olhos que afagam
esses olhares diretos que traçam perfis
eu já sei que não vou morar no céu
relembro o cheiro dos lares que tive e o brejo das ruas
pelos desertos que vago, meu faro, meu cio
por você, pra te desprender de mim
e deixar você seguir pra chegar onde quiser
e entender que é tão difícil carregar o peso da voz
e deixar você seguir pra chegar onde quiser
e entender que é tão difícil carregar o peso da voz
juliano holanda - os sinos
Ouço os sons dos sinos
Da matriz
Ouço os sons dos sinos
Da Misericórdia
Aonde eu vou
Aonde eu vou?
Onde tudo começou
O quadro lá no alto da escadaria
Era um vaso de flores
(que eu nem me lembro bem se estavam secas)
Sobre uma toalha vermelha
Cds juliano holanda á Venda