MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
donazica - 1109
na janela aquele clima cinza tenso
o ar parado sobre os telhados suspensos
não cantava passarinho nem soprava vento
acordei de sobressalto estranha sensação por dentro
senti todos os corações do mundo batendo
num pulso único surdo denso
como se vibrasse um bumbo imenso
mas ao contrário do som soasse só o silêncio
2001 depois de cristo 11 de setembro
em são paulo trânsito lento normal
enquanto em nova iorque explodia o caos
quatro bestas gigantescos boeings de metal
colidindo contra os símbolos do capital
babilônia desabando imagem abissal
estrondo no céu em plena luz do sol
abismo do imprevisto se abrindo
apocalipse now
tudo caindo na real
histeria coletiva caras estupefatas
escombros desespero no espelho das vidraças
do edifício se partindo em brasa
a ilha de manhattan é uma nuvem de fumaça
no alto escalão do pentágono
estrago estilhaçado só ficaram quatro lados
quem sabe o que ainda está intacto
quem prova que existe um só culpado
sistema doente política tísica
desse seu embargo de morte
quem precisa
mais uma página trágica de horror e glória
escrita com sangue pra sempre no livro da história
fazendo de vítima o império do dólar
nosso velho deus que a humanidade adora
faturando à custa da exploração mascarada
natureza devastada estupro das virgens matas
manipulação da cultura de massa
nike mc coca light por toda parte desigualdade
aguçando a crueldade
alimentando os futuros kamikazes
através do vídeo vejo as almas das crianças
que não têm mais que o ódio como herança
um fuzil na mão e a ilusão da recompensa
que Alá lhes dará quando cessar essa pena
de viver sem esperança e morrer por vingança
num deserto de miséria e intolerância
sistema doente política tísica
desse seu embargo de morte
donazica - até o dia
Cada qual com seus parceiros
Periquitos
Cada um com seus problemas
Seus mosquitos
Eles chupam o seu sangue
Sua carne
E se o espírito está louco
Que se acalme
Eles sugam das entranhas
Sua vida
Depois forma aquela cascana
Ferida
Vai saindo aquele líquido
Fluido quente
Você lambe e a sua língua
Passa rente
Se coçar a casca raspa
Cai doente
E até nascer a outra
Fica exposto
O tumor com seus temores
Que desgosto
Essa vida parasita de ascaires
E nos dentes dor aguda
Tem as cáries
Bactérias e micróbios
Pelos ares
Respirar já não se ousa
Suicídio
Ponha as narinas na sopa
De lipídios
donazica - desperte
Relaxe, bicho papão não dá medo a ninguém
Desperte, contos de fadas não contam na estrada
Segure-se, mar de rosas não tem a ver com essa história
Escute, essa canção não é de ninar, é de viver, é de amar
Não deixe pra mais tarde, que escurece
Se nesse mundo a tristeza só cresce
Se mexe, faça de tudo uma prece
Não queixe, pede a benção e agradece.
donazica - dona zica
ô Dona Zica veio tirá meu sossego
desse modo não tem jeito
como posso me aprumar?
Dona Zica tô vivendo numa boa
e a senhora não me poupa
vem logo me atazanar
é zóio grande inimizade desavença
mais um monte de encrenca
numa onda de azar
tá querendo me arrumar um matrimônio
logo com aquele demônio
que veio daquele lugar
me consultei com o meu anjo da guarda
para saber o que falta
para minha proteção
o danado veio me pedir aumento
pra acabar com o tormento
e cumprir sua missão
resolvi aumentar a confiança
a boa fé, a consciência
pro futuro da nação
mas pra isso Dona Zica vá-se embora
e leve junto com a senhora
sua sobrinha Maldição
manda uruca pra lá
urucubaca quer te pegar
manda uruca pra lá
urucubaca quer se casar
donazica - jabá
Jabá, jabá
Já basta de embromação
Jabá, jabá
Já basta de especular
Jabá, jabá
Já basta de superstição
Jabá, jabá
Já basta de super-star
Jabá, jabá
Jábá pra poder entrar
Jabaculê
Pro rádio e pra TV
Jabaculelê
Par poder se aparecer
Jabaculê
O ritmo que faz mexer
Jabaculê
Quem não tiver
Vai sifu, sifu, sifu...
donazica - leve
viver ou morrer
é o de menos
a vida inteira pode ser
qualquer momento
ser feliz ou não
questão de talento
leve a semente vai
onde o vento leva
gente pesa
por mais que invente
só vai onde pisa
donazica - macunaíma
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma
(Herói da nossa gente)
Era preto retinto e filho do medo da noite.
Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia.
Macunaíma já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
- Ai! Que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. (Pouca saúde, muita saúva pouca saúde, muita saúva os males do Brasil são).
Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. (Acuti pita canhém)
(...)
No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e freqüentava com aplicação a murua a poracê o toré o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma.
(Herói da nossa gente)
Era preto retinto e filho do medo da noite.
donazica - mulher segundo meu pai
Bem que meu pai
Homem não sabe, mulher
Falou que falou seu pai, meu avô
Mulher é o que Deus quiser
Às vezes quer uma flor (gardênias e orquídeas)
Às vezes só cafuné
Precisa de muito amor, haja amor
Pra sempre carinho quer
Segundo meu pai,
Mulher costuma muito chorar
Suspira pelo que quer, a mulher
Mania tem de sangrar
Entrega-se na colher
A quem não vai se entregar
Meu pai falou que mulher,
A mulher deve ter parte com o mar
donazica - o fio da comunicação
tem vez que me dói viver
como pode ser, como pode
nunca se pode crer
em ninguém
simples ser humano com H
esse osso roer não é mole, eu devo confessar
esse osso roer não é mole
o meu amor já não tem mais tanta frescura
a minha vida não suporta compostura
e assimilando toda a situação
sigo tranqüila com muita perturbação
espero um dia não tomar o tal prozac
e nem perder o fio da comunicação
na vadiagem glorifico ao meu rei
no prosseguir, confesso também errei
espero ser uma pessoa quase sã
pra nunca ter que conhecer o diazepan
o meu amor já não tem mais tanta frescura
a minha vida não suporta compostura
donazica - pegadas
passos firmes marcados
no compasso desse tempo
pegadas lentas ritmadas
transcorrendo os momentos
pés que soam
pés que sambam
pedem calma
pés de manga
à beira mar
à beira rio
à beira estrada
conforme calha
passos cansados
descompassados noite adentro
pegadas bambas embriagadas
viajando sem endereço
pés descalços
pés com calo
pés de chinelo
pés de criança
mera miséria
beira do nada
beira do abismo
no meio fio
donazica - piano
lá em cima do piano um líquido satânico
preparado há muito tempo por um tal botânico
deste lado destilado do outro lado fermentado
com açúcar com afeto gota a gota decantado
lá em cima do piano ou naquele bar
tem um copo de veneno que é de amargar
tem um pouco do veneno pior que arsênico
lá em cima do piano tinha um copo de veneno
quem acho bebeu não compreendeu
que a doçura que aparenta é só mais uma ferramenta
lá na casa do chapéu por detrás do breu
mora um senhor titânico neurônio irônico
substrato abstraído de sorriso corroído
pai do roedor de dor traidor traído
lá no fundo do seu crânio debaixo dos panos
um suco libidinoso ácido queimando
revelando das entranhas o que parecia estranho
lá em cima do piano tinha um copo de veneno
quem bebeu morreu o azar foi teu
que foi no bico do corvo até a curva do osso
lá na vila do caroço no fundo do poço
tem um copo de veneno dry-martírio pleno
bolinando as turbinas quando o sangue estricnina
na corrente anfetamina você liga e não atina
sobe a rampa do veneno e pula em cima do piano
deixa pra fulano reparar os danos
mas embebida nos enganos no meio dos meios termos
a desiludida vida tem valor supremo
quem viver verá quem beber esquecerá
que mesmo um copo vazio ainda está cheio de ar
donazica - pimenta
tem dia que é noite
tem cada uma que até parece duas
tem gosto pra tudo
tem hora certa pra lavar a roupa suja
hoje não quero ser peça nem jogador
não quero pagar pra ver o fim do jogo ? meu amor
nem parar o tempo
nem mudar o mundo
nem saber de tudo
hoje eu quero ser planta
amanhã raiz de jasmim
ser semente se magenta
ser pimenta
no reino do seu jardim
hoje eu quero ser planta
amanhã raiz alecrim
ser semente erva menta
ser pimenta
no reino
donazica - protesto pessoal
essa conduta
de dizer que não tem escolha é muito simples
é bem mais fácil pedir desculpa por tirar o corpo fora
do que encarar o que rola aqui e agora
inconsciente da sua capacidade e força transformadora
negar a responsa ficar à toa enquanto a vida voa
não se envolver de verdade
não se expor com medo da dor
dar pouco e receber menos da metade
depois lamentar porque já ficou tarde
acorda tira essa corda do pescoço
não adianta estar morto nem resolve andar torto
encosto
perdido no vago do próprio umbigo
cansado sugado querendo achar um culpado
sempre a mesma conversa de que tá tudo errado
que a sociedade não presta
acredite a sociedade começa na sua testa
no fundo
de cada um pulsa um novo mundo
cada indivíduo é um universo vivo
e você mesmo seu maior inimigo
no fundo
de cada um pulsa um novo mundo
cada indivíduo é mais uma peça que completa
essa equação complexa
apesar dos limites do que é ser humano
da mesmice do cotidiano engano
da fome da guerra da vida dura e do que quase não tem cura
a escolha é sua
e quem não escolhe se ferra submerge na treva se estrepa
desespera pára e se espera
o fim ou talvez uma próxima era
perde as melhores surpresas que o acaso reserva
fica de presa que não se preza
de cara feia como quem comeu com pressa
se bobear se fecha numa única idéia
pensando que descobriu a América
sem saber que quanto mais rija
mais fácil a vara se quebra
sem contra indicação pra gente
de qualquer cor credo ou classe social
isso é protesto pessoal
pelo progresso universal
pra botar as canelas de fora
lavar as almas sebosas
exorcizar as cismas
desentranhar os traumas num canto
xamânico mântrico ritmo frenético
dançando destemido com o destino
[sobre o concreto] a céu aberto de espírito desperto
e a criatividade é o melhor remédio
a cura pro tédio
insere a rima rica no seu verso
engendra energia nova no seu cérebro
amar é o tratamento certo
é a possibilidade da descoberta de um outro universo
que antes era apenas poeira elétron
no caos disperso
a procura de seu inverso
pra se fazer completo
é saber tirar a paz da guerra
sentir o sangue correr nas veias e artérias
encontrar alquimia química quimera?
conhecer todos os estados físicos da matéria
sentir a fusão dos lábios na pulsação dos corpos
movimento básico em conexão com o cosmos
sugar a seiva a saliva gozar celebrando a vida que grita
em explosão magnífica
donazica - quem quiser
não vou mais fazer sala pra ninguém
quem sentar que sente
quem chorar que chore
quem quiser rezar que reze ? amém
quem quiser que se sirva desse som
quem sentir que sinta
quem sair que saia
contanto que não saia do tom
quem quiser vinho que venha
quem quiser chance que cante
quem quiser terra que plante
quem quiser transe que dance
quem quiser beijos que roube
quem quiser do-in que doe
quem quiser sinos que soe
quem quiser asas que voe
quem quiser fogo que queime
quem quiser vento que invente
quem quiser toques que toque
quem quiser corda que acorde
quem quiser carne que encarne
quem quiser cachos que encaixe
quem quiser pele que apele
quem tiver língua que fale
e quem quiser que cante outra
donazica - salve
Salve Iemanjá
Salve a Rainha do mar
Salve Iemanjá
Salve a Rainha do mar
Peço licença e faço minha oração
que ela proteja meu corpo
quando eu passar a rebentação
Nas tempestades,
no olho do furacão
Nesses mares da paixão
A sua benção
eu peço por toda a nação
o leme, o vento do centro
Pra prosseguir nessa direção
O seu alento
nas noites de solidão
No meio da imensidão
Salve salve
Salve Iemanjá
Salve a Rainha do Mar
Quando meu corpo se envolve
No seu abraço salgado
Eu me sinto criança
E assim vou sendo ninado
Cds donazica á Venda