MELHORES MÚSICAS / MAIS TOCADAS
barrinha - adeus papai adeus mamãe
Declamado:
(â??Adeus papai, adeus mamãe
Qual uma ave
Que sai do ninho que ela nasceu
Eu saio de vossos braços
Para trilhar passo a passo
A sina que Deus me deu
Ã? chegada a triste hora
De eu ir pelo mundo afora
Mas levarei na lembrança
Esta casa onde eu nasci
E onde feliz eu vivi
Desde o tempo de criança
Quanto mamãe padeceu
Para criar os filhos seus
Por isso é que eu vou embora
Preciso lutar com a vida
Para lhe dar mãe querida
Mais conforto pra senhora
Ã? neste triste momento
Vou fazer o juramento
Que só voltarei para trás
Se eu conseguir triunfar
Porém se eu fracassar
Aqui eu não volto mais
Um pedido eu vou deixar
A quem por mim perguntar
Todos os amigos meus
Que eu fui sem me despedir
Temendo não resistir
A hora triste do adeus
Guarde bem meu violão
Colega de solidão
Que sofreu junto comigo
Nas noites enluaradas
Nas saudosas madrugadas
Foi ele o melhor amigo
Meu canário seresteiro
Que eu mesmo fiz prisioneiro
Para ouvir ele cantar
Só depois que eu for embora
Abra a porta da gaiola
E deixa ele voar
Feche meu cão policial
Para que o pobre animal
Não veje quando eu partir
Solte ele no instante
Que eu estiver bem distante
Pra ele não me seguir
Não chore papai, não chore
Não sou um filho que morre
Vou apenas conhecer o mundo
De lugar desconhecido
Mas de meu papai querido
Não esquecerei um segundo
Não chore mamãe, não chore
Eu vendo o pranto que corre
Sobre o seu rosto divino
Chego a perder a coragem
De seguir esta viagem
Para cumprir meu destino
Eu sei que em terras estranhas
Papai e mamãe me acompanha
Pertinho do coração
E sempre que a noite desce
Eles dizem numa prece
- Filhinho, a nossa benção
Nas ondas frias do vento
Mandarei meu pensamento
Levar um recado meu
E dizer mamãe querida
Não encontrei nesta vida
Outro amor igual ao seu
Desce a noite silenciosa
Cai o sereno nas rosas
Surge a lua lá na serra
Mamãe vou partir agora
E quando raiar a aurora
Eu estarei noutras terra
Adeus, oh! terra querida
Onde eu tive nesta vida
Os primeiros sonhos meus
Adeus serras e campinas
Rios de águas cristalinas
Adeus papai e mamãe, adeusâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - cabocla flor brasileira
declamado:
(â??Cabocla, flor brasileira, que tem o cheiro das rosas
Desabrochando viçosa nas manhãs de meu sertão
O teu andar se parece com as águas da cachoeira
Rolando pelas pedreiras se espatifando no chão
Teus olhos machuca a gente como dois chifres aguçados
De um pantaneiro amuado no carrascal do grotão
Eu quero morrer sorrindo sentindo os chifres macios
De teus olhos bravios varando meu coração
As ondas de teus cabelos são como as ondas da praia
Que sobre a areia desmaia ao sopro da brisa mansa
Teus lábios são lindas flores se abrindo na primavera
Cabocla da minha terra é a linda flor da esperança
O teu olhar é mais quente do que o sol do mês de agosto
Iluminando em teu rosto o encanto que resplandece
Tem o brilho das estrelas daquelas bem reluzentes
Que aparecem no poente logo que o céu escurece
Cabocla flor brasileira que sabe ser namorada
Sabe ser noiva adorada e esposa com devoção
Sabe ser mãe carinhosa porque o amor e o carinho
Cabem juntos inteirinhos no seu grande coração
Abra teus braços bonitos, cabocla dos sonhos meus
E na cruz dos braços teus deixe que eu seja pregado
E faça com teus cabelos minha coroa de espinhos
Para ganhar teus carinhos morrerei crucificado
Mostre, cabocla trigueira, que a tua rara beleza
Tem o dom da natureza que nem o tempo descora
E tem a simplicidade de uma rolinha medrosa
E o florescer de uma rosa quando vem raiando a aurora
Se eu fosse o presidente baixava uma portaria
E teu nome eu escrevia na nossa linda bandeira
Onde está â??Ordem e Progressoâ? escrevia radiante
Com letras de diamante: â??Cabocla, flor brasileira!â?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - estrada da vida
declamado:
(â??Você estrada de asfalto, já foi estrada de terra
Vou caminhando sozinho por suas curvas e serras
Contemplando os arvoredos
Que florescem logo cedo nas manhãs de primavera
Deixa eu sentar-me ao seu lado
Relembrar aqueles dias que aqui passavam boiadas
E de longe a gente ouvia o repicar de um berrante
Em muitas léguas distante o seu eco repetia
Depois veio o negro asfalto, cobrindo tudo no chão
Areia, terras e gramas e os rastros do caminhão
Cobrindo sinais deixados
Pelos cascos afiados do meu cavalo alazão
Você estrada de asfalto, hoje é estrada criminosa
Quantos já perderam a vida em suas curvas perigosas
Ã? o progresso que chegou
E só saudade deixou daquela era saudosa
A boiada que seguia ao toque do berranteiro
Pra atravessar um estado demorava o mês inteiro
Hoje vai em poucas horas
Com os bois numa gaiola que é o expresso boiadeiro
Motoristas, tenham calma, não atravessem a lombada
Cuidado com a neblina e com as curvas fechadas
Não confiem só na sorte
Pra que haja menos morte, menos cruzes na estrada
Vai negra estrada de asfalto os problemas carregando
Pessoas que vem de longe, uns sorrindo, outros chorando
Outros que não voltam mais
Porque deixou para trás alguma mão acenando
Pessoas que vem de longe trazendo na alma a esperança
Outras que partem levando no coração a lembrança
Mil emoções diferentes
Que vai na alma da gente e aumentando mais na distância
Eu, contemplando esta estrada de curva, serras e subida
Me lembro que tenho na alma uma estrada parecida
Por onde passou meus anos
De amargura e desenganos na longa estrada da vida
Duas viagens já fiz nessa estrada no passado
Nos braços de minha mãe quando eu fui batizado
E depois, na mocidade
Levei meu bem pra cidade, de lá voltamos casados
Falta a última viagem, que um dia deve chegar
Ã? a viagem derradeira de quem vai pra não voltar
E lá no fim da estrada
Na minha eterna morada vou pra sempre descansar
Ã? esta a estrada da vida que todos devem passarâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - não deito com arreio
(â??Dá licença minha gente que eu agora vou declamar
Tem gente que fala dos outros mas é de mim que eu vou falar
Tenho fama e um bom cartaz, disso eu posso me orgulhar
Mas tudo que eu tenho eu devo a quem me pôs neste lugar
Ã? esta platéia querida que sabe tão bem aplaudir
Com as palmas da platéia muitas emoções eu já senti
Se estou no pedestal da glória e os degraus da fama eu já subi
Devo ao público brasileiro e amigos que eu conheci
Sou artista por vocação, sou amigo dos amigos
Tem gente que fala de mim mas pra esta gente eu não ligo
A inveja não me atinge, na minha luta eu prossigo
Quero que Deus abençoe e perdoe meus inimigos
Minha fama corre o mundo, todo mundo me admira
Meu peito é igual um sino, minha voz é igual ...
Sou um rei e minha coroa tem brilhante e pedra safira
Da minha cabeça essa coroa quero ver quem é que tira
Para o ódio eu respondo com palavras de perdão
Daqueles que me odeiam eu estendo a minha mão
Faço igual Nosso Senhor no dia da sua traição
Que deixou Judas beijar na face pra dar o sinal da traição
Já recebi cartas anônimas com terríveis ameaças
Com promessas de vingança me desejando trapaça
Eu queimei uma por uma, das palavras eu achei graça
Só ficou a cinza na terra e foi para o céu a fumaça
Quem escreve e não põe o nome comete a maior traição
Eu comparo com o gato que dá o tapa e esconde a mão
Ã? a arma que usam os fracos, homens sem posição
Ã? a fortaleza dos covardes mais perigoso que o ladrão
Vejo os amigos felizes e seus negócios progredindo
Fico alegre e satisfeito por que eles tem que subir
A tristeza invade meu peito em não impedir
Quando um amigo fracassa e vejo na estrada cair
Sou sincero e destemido, dos meus pais a herança veio
Mas não dobro a minha espinha, coisa que eu acho veio
Sou igual o puro sangue, de nada eu tenho receio
Se eu precisar eu morro na raia mas não deito com o arreioâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - o carro e a faculdade
(â??Quem entra em meu escritório vai ver com toda a certeza
A miniatura de um carro sobre os livros em minha mesa
Por certo vai perguntar qual a razão, por que foi
Que o doutor pode adorar um velho carro de boi
Ã? por que foi com um carro pelas estradas a rodar
Que meu pai ganhou dinheiro pra eu poder estudar
Enquanto ele carreava passando dificuldade
Eu devorava as lições nos bancos da faculdade
Por isso eu guardo este carro com orgulho e com amor
Por que este carro me deu este anel de doutor
Hoje meu pai está velhinho morando em minha mansão
Feliz por ter colocado um diploma em minhas mãos
Fechando os olhos parece que eu vejo a estrada sem fim
E um velho carro de boi cantando dentro de mim
Em meus ouvidos ficaram o gemido de um cocão
De um carro de boi rodando nas estradas do sertão
Entre nossas duas vidas existe comparação
Hoje eu seguro a caneta como se fosse um ferrão
Os riscos de minha escrita sobre as folhas rabiscadas
São como os riscos que seu carro deixavam pelas estradas
Os rastros que os bois deixavam naquelas manhãs de inverno
São os pingos de meus is nas folhas de meu caderno
De meu pai a juventude como um carro de verdade
Encalhou no chão do tempo com a grande carga da idade
Minhas mãos estão macias graças as mãos de meu pai
Que ainda conserva os calos do tempo que longe vai
Cada calo representa um ano pelo sertão
Rodando com o velho carro para me dar instrução
Quando a morte carregar meu pai para a eternidade
Pela estrada do luar de infinita claridade
Cinco estrelas puxarão seu carro no céu azul
São as estrelas que formam nosso Cruzeiro do Sulâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - o filho que volta
declamado:
(â??Eu sou o filho que volta
A bater na mesma porta
Que há muito tempo fechei
Quando eu fui embora chorando
E aqui também soluçando
Papai e mamãe eu deixei
Era uma noite assim
E veja ali no jardim
Os mesmos pés de hortênsia
Desfolhados pela idade
Ou talvez pela saudade
Que sentiu na minha ausência
Veja a gaiola vazia
Do canário que um dia
Eu mesmo mandei soltar
Talvez que o pobre passarinho
Voltou ao seu velho ninho
Como eu voltei ao meu lar
Veja meu cão policial
Latindo ali no quintal
Talvez me reconheceu
- Vem, Logo, vem, sou seu dono
Que te deixou no abandono
Sem ao menos dizer-lhe adeus
Será que ainda existe aquele meu violão
Num cantinho no salão
Desde o dia que eu parti
Meus colegas que ficaram
Talvez morreram ou mudaram
Ou então todos aqui
Já vai alta a madrugada
Veja a janela fechada
Do quarto de meus velhinhos
Talvez mãezinha chora
Sem nunca pensar que agora
Seu filho está tão pertinho
Talvez pensam que eu morri
Porque nunca lhes escrevi
Desde a minha despedida
Eles devem estar velhinhos
Já na curva do caminho
Que conduz ao fim da vida
- Mamãe! Papai! â?? abra a porta!
O seu filho está de volta
Pra pedir sua benção
Abra a porta, papai!
Eu sei que sua voz
Não sai cortada pela emoção
Não precisa dizer nada
Deixe as lágrimas derramadas
Banhar meu peito de dor
Eu que vivi sem carinho
Vinte ano papaizinho
Quero agora o seu calor
Papai, cadê minha mãezinha?
Meu pensamento adivinha
Olhando nos olhos seus
- Meu filho, chorando eu quero dizer
Sua mãe não pode viver
E vou-se embora com Deus
Meu Deus! Eu fui o culpado
De desgosto ter matado
Aquela que me criou
Que ausente de seu filhinho
Qual uma flor entre espinhos
No abandono murchou
Papai, como estás velhinho
Os seus cabelos estão branquinhos
Foram as idades sem fim
Te encontrei mais abatido
De tanto ter padecido
Vinte anos longe de mim
Veja ali a fotografia
Da mãezinha que um dia
Aqui deixei a chorar
Parece que ela me diz:
- Filho, como estou feliz
Por ver você regressar
Parti pra fazer riqueza
Para tirar da pobreza
O meu pai e minha mãezinha
Compreendi tarde demais
Que eram meus velhos pais
A maior riqueza que eu tinha
Quem vive perto dos pais
Não os abandone jamais
Porque seu amor profundo
Ã? o amor universal
Não encontrarás outro igual
Em nenhum lugar deste mundoâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - pai crianças abandonadas
declamado:
(â??As nossas crianças de hoje serão os homens de amanhã
Se não forem amparadas nossas esperanças serão vãs
Por isso as nossas autoridades tem sido muito zelosas
Devem cuidar das crianças que do mundo são as rosas
Quantos meninos há por aí de pés no chão esfarrapados
Famintos e maltrapilhos por este mundo jogado
Quantas crianças sem escola que não sabem o abc
Atacados por fraqueza que morrem logo ao nascer
Muitas vezes uma mãozinha se estende à nossa frente
Pedindo pelo amor de Deus com palavras comoventes
E a gente que tem alma e no peito um coração
Ao dar aquela esmola faz um vagabundo ou um ladrão
Esse drama é bem mais triste em todas as grandes capitais
Há milhares de crianças que nem conhecem os seus pais
São órfãos de pais vivos, aleijados, cegos ou dementes
Filhos de mães solteiras os futuros indigentes
Visitando uma penitenciária com os presos conversando
Fui ouvindo as suas histórias no fim acabei chorando
O criminoso mais temível ou ladrão mais conhecido
Foi apenas na sua infância um pobre moleque esquecido
E crescendo ao deus dará sem o amparo maternal
Juntou-se a outros meninos trilhando o caminha do mal
Um roubo pequeno ontem, hoje um assalto a mão armada
Amanhã trinta anos de prisão, para sempre uma vida desamparada
Por isso nosso bom presidente, deputados e governadores
Senhores vereadores e prefeitos, dignos juízes e senadores
Esses versos são um apelo em nome de nossas crianças
Depositamos nas vossas mãos nossas derradeiras esperanças
Os traficantes do vício, os reconhecidos marginais
Cujos retratos diariamente se vê nas páginas dos jornais
Foram crianças sem infância, foram meninos sem um teto
Levados ao caminho do crime pela falta de um afeto
Olhai as nossas criancinhas, ensinai-lhes os bons caminhos
Ser pobre não é desdito, o mundo é cheio de espinhos
Porque nos mais humildes barracos pode residir a honestidade
Não é só nos ricos palácios que mora a felicidade
Meu Deus tenha piedade, atendei as preces minhas
Disse o vosso filho Jesus:- Vinde à mim as criancinhas
Faça com que as autoridades olhem com os olhos do coração
Afague com as mãos da alma as criancinhas desta naçãoâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - quem é que não teve pai
Declamado
("Quem é a criatura neste mundo que não teve pai?
Mas que pergunta abestada é esta que eu estou fazendo
Pois eu mesmo estou dizendo que ninguém nasceu sem pai
A gente pode nascer com falta de dedo na mão
Pode nascer com falta de vista
Com falta de tanta coisa a gente pode nascer, isso é somente Deus querer
Mas por falta de pai isto é que não pode ser
Eu também tive meu pai, eh! que palavra gostosa
Palavra tão deliciosa que um filho poder dizer
Agora eu vou falar um cadinho de meu pai, eta! velhinha bão
Quero dizer, meu pai não era desses pais bobalhão
Que os filhos chamavam ele de você faltando sua educação
Muita gente desta época diz que isto é modernismo
Ã? o tal de grã-finismo desta nova geração
Mas eu tratar meu pai de você, isto eu juro, pode crer
Antes de terminar de dizer
Eu já sentia doer no meu pé de ouvido
Bem dada uma grande bofetada
Meu pai não era desses que pegavam os filhos no colo para fazer agradinho
Ele era um velho durão, era de pouca conversa mas tinha um bom coração
Ã? engraçado, meu pai não era violeiro
Não era catireiro e nunca foi cantador
Uai! como é que eu fui sair violeiro e cantador
Esta minha inclinação
Meu herdeiro pai do meu pai de vencer igual
Esse sim que era o bão companheiro, caboclo sarado
Meu avô era viajado, meu avô era tropeiro berganhador de cavalo
Era meio curandeiro e além disso violeiro
Meu avô se estava viajando com a sua tropa arriada
E quando numa pousada ele visse uma muié
Sendo esta china morena, ou fosse loira ou pequena
E que o velho ficasse gostando
Ele já gritava com os tropeiros: amanhã de madrugada vocês podem seguir viagem, minha gente
Que eu neste pouso gostoso vou ficar alguns dias morando
Meu avô era resolvido, era um velho bem jeitoso
Para dar tiro era destemido mas nunca foi brilhante
Os tempos foram passando
E o velho sempre gastando e o dinheiro se acabando
Buraco que a gente tira e ele não torna a encher
Tem que ficar vazio, é verdade, pode crer
Meu avô morreu na pobreza
Sem dever nada a ninguém
Morreu pobre sem vintém
Porém morreu com nobreza
Esta herança de pobreza
Também o meu velho pai é todo meu velho avô
Meu pai morreu muito pobre
Mas uma herança de família para os filhos ele deixou
Esta herança, meus amigos
Eu ainda trago comigo guardada com devoção
São eles dois predicados
Uum é o trabalho sagrado e outra é a educação")
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - raiz de saudade
declamado:
(â??Contemplando o anoitecer
Vendo o céu escurecer eu fico olhando para trás
Vejo lá longe o passado
E o estradão que eu tenho andado que não volta nunca mais
Lá no começo da vida
Vejo uma cruizinha caída muito bem longe daqui
Na beira de uma estrada
Entre cipó abandonada no sertão onde eu nasci
Esta cruizinha esquecida
Na estrada de minha vida é o marco de uma lembrança
No pé daquela cruizinha
Foi onde morreu Rosinha, coleguinha de criança
Naquele sertão só tinha
Duas velhas palhocinhas bem no alto do espigão
E para mim só Rosinha
Era a única vizinha que eu tinha lá no sertão
Nem bem despontava o dia
A Rosinha já corria lá em casa me chamar
Levantava, que alegria
E correndo nós dois ia lá no corguinho brincar
Nós dois formamos um jardim
Plantamos rosas e alecrim, tinha flor roxa e amarela
Cada flor que eu apanhava
Correndo alegre eu levava pra enfeitar os cabelos dela
No tronco de um velho ipê
Juramos de se querer e até fizemos um sinal
Para quando nós dois crescesse
E os nosso ombros lá batesse nós havia de casar
Seu moço, se eu não me engano
Quando eu já tinha dez anos a desgraça aconteceu
Rosinha caiu doente
Com uma febre, de repente em poucas horas morreu
Seus olhos foram fechando
E para mim falou variando: - Não chore, eu vou passear
Foi tão longo teu passeio
Esperei tanto ela não veio, nunca mais tornou voltar
Toda flor que nós plantemos
Que juntinhos nós dois reguemos, eu dei pra ela levar
Parece que ela dizia: - Não chore, no céu um dia haveremos de se encontrar
Fui esperar no cerrado
O caixão passou enfeitado e todo o pessoal atrás
Desse tempo eu não sabia
Que quando a gente morria não voltava nunca mais
Lá no ipê que nós dois juremos
Onde tantas vez balancemos, com um galho fiz uma cruz
Ela partiu entre véu
Junto com os anjos do céu, cantar louvor à Jesus
Para muito longe mudei
Fiquei moço, me casei para ver se eu esquecia, mas quá
Até hoje, todas as tardes
Esta raiz da saudade no peito torna a brotar
Você está me ouvindo, Rosinha?
Eu já tenho uma filhinha do tamanho de você
Cada vez que olho ela
Parece que vejo nela o seu retrato aparecer
Pois desde que você foi embora
Eu saí pro mundo afora, só falsidade eu achei
E o amor mais sagrado e puro
Do que o nosso, eu juro, que nunca mais encontreiâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - saudade de mãe
declamado:
(â??Parece que estou ouvindo por aqui uma canção
Ã? o que minha mãe cantava
Lá onde nóis morava pra alegrar o coração
Por isso eu peço licença
Pra que em vossas presenças eu possa desabafar
Na festa que comemora
Aquela que todos adora, que é a rainha do lar
Nóis também lá no sertão
Faz a comemoração desta data tão querida
Que é de nossa mãezinha
Que pegava nossa mãozinha e guiava os primeiros passos da vida
Mãe, porque santa palavra
Que até Jesus pronunciava com tanta felicidade
Mãe merece adoração
Seja lá no meu sertão ou seja aqui na cidade
Nóis morava lá na roça
Lá nóis tem nossa paióça que hoje vive abandonada
Lá viveu nossa mãezinha
Que apesar de pobrezinha sempre foi resignada
Lutou pra criar os filhinhos
Sempre com tanto carinho, gostava de assim falar:
"Filhinho tenha cuidado
Seja humilde e educado com todos que encontrar"
Quantas noites ela passava
Que nem na cama deitava, passava a noite à meu lado:
"Meu filho tá delirando
Será que ele está sonhando ou está adoentado"
Sempre uma preocupação
Apertava o coração da minha velha querida
Veja que amor mais puro
Pelo filho eu até juro que a mãe dá a própria vida
Mas um dia, meus amigos
Lágrimas vem quando eu digo isso que me aconteceu
Chegaram pra mim falando:
"Caboclo, estão te chamando, sua mãezinha morreu"
Senti um nó na garganta
Minha tristeza foi tanta que nem podia falar
Por mais que eu imaginasse
Em tudo aquilo pensasse, não podia acreditar
Quando vi minha mãezinha
Aquela santa velhinha deitada sobre o caixão
Pensei: "Deus de caridade
Vós que é poder e bondade dai a nós consolação"
Por isso eu quero falar
Quem tem mãe deve adorar, não a maltrate jamais
Por que quando ela morrer
Aí é que o filho vê a falta que a mãe fazâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - senhora aparecida
Declamado:
(â??Oh! Senhora Aparecida
Que por Deus foi escolhida
Padroeira do Brasil
Em todos o lares é adorada
Entre as flores conservada
Num manto azul cor de anil
Desde o palácio enfeitado
Até o rancho abandonado
Lá nos confins do sertão
Existe a imagem querida
Da Senhora Aparecida
Dando a todos proteção
Ã?s a luz dos viajantes
Que estando do lar distante
Numa oração diz assim:
Oh! Senhora Aparecida
Olhai minha mãe querida
Que está bem longe de mim
Um prisioneiro fechado
Vendo o céu por entre as grades
Lembrando o destino seu
Diz com uma voz comovida:
Oh! Senhora Aparecida
Perdoai os erros meus
Um navegante isolado
Sobre os mares arrastado
Pelas fúrias de um tufão
Só em teu nome bendito
Que é a esperança dos aflitos
Ele encontra a salvação
Quantas mães junto ao berçinho
Vendo morrer o filhinho
Seu santo nome ela chama
E a Senhora Aparecida
Devolve de novo a vida
Ao filhinho que tanto ama
Um doente agonizando
Quando seus olhos parando
Cobrindo-se de um branco véu
Chamando seu nome santo
Envolvido no seu manto
Ele subirá para o céu
Eu sendo um simples artista
A procura de conquista
Vou pela estrada da vida
E levo com confiança
A imagem da esperança
Da Senhora Aparecida
Quando encontro algum fracasso
Ou dominado pelo cansaço
Eu aperto a sua imagem
E a minha fé decidida
Da Senhora Aparecida
De novo me dá coragem
Oh! Senhora Aparecida
Ã?s a sublime guarida
De quem no mundo padece
Como a estrela matutina
Que a noite escura ilumina
Quando no céu aparece
Oh! Senhora Aparecida
Tu és a estrada florida
Que nos leva aos pés de Deus
Porque todas as estradas
Se encontram na encruzilhada
Que é a cruz dos braços seus
Por isso que a nossa gente
Raça sublime e valente
Por ninguém será vencida
Porque com fé adoramos
E em nossas preces chamamos
Oh! Senhora Aparecida
Oh! Senhora Aparecida
Ã? a nossa Mãe querida
Que nos protege a vida inteira
Ajudai o nosso Brasil
Este povo varonil
Desta terra brasileiraâ?)
(Pedro Paulo Mariano - Santa Maria da Serra-SP)
barrinha - vida de tropeiro
Sou um tropeiro
Que estou aposentado
No meu rancho beira chão
Em meu banco vivo sentado
Olhando sempre pro céu
Vejo todo estrelado
Olho sempre na parede
Meu laço dependurado
Meu arreio e meu berrante
Está tudo empoeirado
A espora e meu revólver
Eu deixei abandonado
Meu cachorro, coitadinho
Vive sempre deitado
Meus cabelos embranqueceram
Ã? o sinal do meu passado
Suspiro de hora em hora
Sai do meu peito guardado
Saudades de minha tropa
Da minha lida de gado
Esta é a vida de um tropeiro
De um boiadeiro afamado
Vendo a boiada passar
Cortando aquele estradão
A poeira vai subindo
O berrante vai tocando
Bem fundo em meu coração
Minhas lágrimas vão caindo
E tristonho eu ponho a chorar
Ouvindo o tropé da boiada
E a poeira levantar
Lembro os tempos da mocidade
Montado em meu alazão
Fui tropeiro de verdade
Preferido pelo patrão
O gado me entendia
Com ele eu conversava
Nunca tive covardia
Com a tropa que eu comandava
Tenho saudade dos velhos tempos
Que nunca mais voltarão
Do sol, da poeira, dos ventos
Que tocavam bem fundo em meu coração
Hoje no fim da vida
Recordo com muita saudade
O som da minha viola
Só me trouxe felicidade
Lembro o gado nas campinas
E nas noites enluaradas
Jantando um feijão tropeiro
Junto à beira da estrada
Lembro das lindas toadas
Com meu parceiro eu cantava
Naquelas noites tão lindas
A viola eu ponteava
Deixei distante a mulher amada
Tudo passou como um sonho
Hoje só me resta a saudade
Eu vivo sempre tristonho
Estou chegando ao fim da vida
E acabo minha história contar
Vida de tropeiro bem vivida
Vivo sempre a recordar
Aos tropeiros e boiadeiros
Que põem esse disco a tocar
Através desses meus versos
Vocês eu quero saudar
Vou me despedindo agora
Ouvindo um berrante a tocar
E o tropé da boiada
Meus olhos tristes se põem a chorar
Cds barrinha á Venda